Por: Alfredo Melo – Seu nome era Carlos Armando. Era treinador do Cajá FC, um dos melhores times que disputavam o campeonato amador, realizado no campo do antigo Vila Lusitânia, em Braz de Pina, na cidade do Rio de Janeiro.
Nunca se importou, e adorava ser chamado de “Luxemburgo da Várzea”. Jamais escondeu que seu ídolo era Vanderlei Luxemburgo. Seu livro de cabeceira era “Profissão Campeão”, escrito por Luxemburgo com a colaboração do jornalista Ingo Ostrovsky. Conhecia e empregava todos os esquemas táticos utilizados por Luxemburgo. Algumas vezes, como Luxa, dirigia seu time, a beira do campo, com o mesmo gestual do ídolo.
Adorava, quando ouvia, nas esquinas de Braz de Pina, que era um grande estrategista. No campeonato de 1994, a “criatura” superou o “criador”. Graças a um desses inexplicáveis regulamentos dos campeonatos de várzea, o Robson Bar, campeão do primeiro turno, chegou a decisão com 1 ponto e o Cajá, campeão do segundo turno e com o maior número de vitorias, chegou com 2 pontos. Resumo da opera: o Cajá jogava pelo empate para chegar ao título e o Robson Bar, precisava vencer para levar o jogo para prorrogação, onde o vencedor seria o campeão. Entenderam o regulamento? Nem eu.
A partida no tempo normal, foi um show de Carlos Armando, pois, seu time jogou muito mal o primeiro tempo e foi para o intervalo com o placar adverso de 2×0. Nada dava certo pro time do Cajá, que marcava errado e errava muitos passes e o Luxemburgo da várzea, parecia estar em outro mundo. No segundo tempo o panorama da partida, não mudou e aos 20 minutos do segundo tempo, o Robson Bar, marcou 3×0.
Ai começou o show de Carlos Armando, ele pediu que seu camisa 12, Zezé, simulasse uma contusão e saísse de campo, deixando o time com 10 jogadores, logo depois Carlos Armando, sinalizou para que Pitico, caísse em campo e fosse retirado. Com 9 jogadores em campo, o time do Cajá não incomodava mais e o Robson Bar partia pra cima.
Aos 30 minutos, o Luxemburgo varzeano, pediu que Chula e Silvinho, também, simulassem contusão e saíssem de campo. Aos berros o goleiro Dinei, esbravejava com o treinador, perguntando se ele estava louco e o time do Robson Bar, atacando sem parar e marcou o quarto, o quinto e o sexto gol, para desespero do goleiro Dinei.
Os torcedores, não entendiam por que o time estava com sete jogadores em campo e Carlos Armando, não havia feito nenhuma substituição, enquanto os quatro “contundidos” continuavam deitados, sendo atendidos pelo massagista. As especulações ferviam no meio da torcida, alguns torcedores diziam, que Carlos Armando, iria mandar cair mais um jogador e melar o jogo, tentando depois, realizar uma nova partida. Muitos não acreditavam, mas, também, não sabiam dar uma explicação.
Explicação que veio aos 43 minutos do segundo tempo, quando o “Luxa”, voltou para o campo com os quatro “contundidos” e mais três substituições, com o placar desfavorável de 6×0.
Ao iniciar a prorrogação, o time do Cajá, estava com 7 jogadores descansados em campo, contra um extenuado Robson Bar, que corria pra golear em um jogo que bastava vencer por 1×0.
Dessa forma o Cajá FC, em 30 minutos de prorrogação meteu 3×0 no adversário e ficou com o título.
Desse dia em diante o saudoso Carlos Armando, o “Vanderlei Luxemburgo da várzea” se imortalizou na várzea carioca.
Sobre o colunista – Bem, até que enfim o Alfredo Melo assume a verdade que nunca quis calar: ele é o Gatinho Cruel, que agora sai de cena para dar lugar ao seu criador. Enorme criatura no sentido literal, na bondade, no caráter e no conhecimento profundo do futebol e das coisas boas da vida, inclusive pratos deliciosos. Ah, tem também a paixão pelo Botafogo cada dia maior…
> JSNews –