BBC BRASIL – “Muitas meninas que tentam migrar para o Texas são sequestradas. Para o bem de sua família, não prossiga”, diz um cartaz, acima da imagem de uma boneca jogada no chão.
“Sua esposa e filha vão pagar a viagem com seus corpos. Os coiotes mentem. Não coloque sua família em risco”, afirma outro, com a barriga de uma mulher grávida ao fundo.
Abbott anunciou a medida na última quinta-feira (19/12) durante uma coletiva de imprensa em Eagle Pass, cidade que faz fronteira com Piedras Negras, no México.
O governador disse que a campanha tem como objetivo oferecer aos migrantes em potencial e àqueles que já se dirigem para o norte “uma imagem realista do que acontecerá com eles no caminho ou se atravessarem ilegalmente (a fronteira) para o Texas”.
“Estes cartazes contam as histórias de terror do tráfico humano. Eles imploram às pessoas na América Central que considerem as realidades violentas e terríveis do que acontecerá com as mulheres e crianças que trazem consigo“, enfatizou.
Em vários idiomas
A maioria está em espanhol, mas eles também criaram alguns com texto em chinês, árabe e russo, devido às origens cada vez mais diversas daqueles que fazem a travessia para os EUA.
Esta é a mais recente das campanhas anti-imigração lançadas pelo governador do Texas, que fez desta questão sua bandeira e tem sido um dos críticos mais veementes do governo de Joe Biden.
Tanto que, por meio de suas medidas, colocou à prova os limites da autoridade estatal nesta área, em mais de uma ocasião, questionando se a aplicação da lei de imigração é um poder exclusivo do governo federal.
Algo que tem sido amplamente criticado por ativistas dos direitos dos migrantes e especialistas jurídicos, que denunciam haver um interesse político e, às vezes, eleitoral por trás.
Neste sentido, Abbott aproveitou a coletiva de imprensa para destacar os “bons resultados” de uma destas iniciativas estaduais, a Operação Estrela Solitária, destinada a deter quem cruza a fronteira de forma irregular.
Apesar de suas críticas à política de imigração do presidente em fim de mandato, foi divulgado na quinta-feira que a gestão democrata, em seu último ano de governo, realizou o maior número de deportações em uma década.
De acordo com um relatório do Departamento de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE, na sigla em inglês), durante o ano fiscal de 2024, foram deportados 271.484 não-cidadãos para 192 países.
Embora Donald Trump tenha vencido as eleições de 5 de novembro prometendo a maior deportação de imigrantes indocumentados da história, as deportações de Biden superam os recordes já batidos pelo republicano, com 267.260 deportações somente em 2019.
Por outro lado, as medidas aprovadas por Biden em junho para conter a entrada de migrantes provocaram uma grande queda nas detenções na fronteira.
Elas atingiram um recorde em dezembro de 2023, e agora estão em seu nível mais baixo desde julho de 2020, de acordo com o Departamento de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA (CBP, na sigla em inglês).
Violência, uma constante no percurso
Ao lado de Abbott, na coletiva de imprensa de quinta-feira, estavam o “czar” estadual de fronteiras, Mike Banks, o diretor do Departamento de Segurança Pública, Freeman Martin, e a diretora executiva da Associação contra Violência Sexual do Texas, Rose Luna, entre outros.
“Há uma crise de agressão sexual, em grande parte tácita, que afeta mulheres e crianças que migram para a fronteira do Texas”, afirmou Rose Luna, referindo-se a algumas das mensagens nos outdoors.
“Reconhecer este problema e o seu profundo impacto nos sobreviventes não é apenas crucial: é nossa responsabilidade”, acrescentou.
Esta é uma realidade que as organizações que trabalham com migrantes denunciam há algum tempo, ao mesmo tempo em que afirmam que a violência — de todos os tipos — é uma constante para quem decide seguir a rota para os EUA.
No ano passado, a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) denunciou que a violência sexual era “cada vez mais cruel e desumana” em Darién, a selva entre a Colômbia e o Panamá, cruzada por milhares de migrantes que fazem a rota terrestre, incluindo venezuelanos, equatorianos e haitianos, mas também de outros continentes.
A organização humanitária internacional prestou assistência a 950 pessoas, em sua maioria mulheres, que fizeram denúncias de violência sexual ao atravessar o chamado Tampão de Darién desde abril de 2021.
Em uma coletiva de imprensa em abril deste ano, a coordenadora médica adjunta da organização, María Laura Chacón, informou ter atendido mais casos de violência sexual contra migrantes em diferentes países no primeiro trimestre de 2024 do que em todo o ano anterior.
“Vi que muitas foram estupradas. Eu as vi saindo nuas e espancadas. Eles te agarram entre uma, duas ou três pessoas, e te estupram”, disse a ela uma das sobreviventes que a organização atendeu em Darién, de acordo com um relatório da ONG.