AFP – Grafites no centro de Montevidéu com as palavras “Israel genocida” dispararam os alarmes da ONG internacional CAM, que denuncia uma “escalada” de ódio contra judeus desde o início da guerra entre Israel e o grupo islâmico Hamas, há um mês.
“Pintar essa frase nas fotos da campanha para libertar os reféns capturados pelo Hamas é algo muito forte”, diz Shay Salomon, diretor de assuntos hispânicos do Movimento de Combate ao Antissemitismo, conhecido pela sigla em inglês CAM.
O ataque do Hamas em 7 de outubro, que deixou mais de 1.400 mortos, a maioria civis, e 240 raptados, segundo dados israelenses, foi o mais mortífero desde a criação do Estado de Israel, em 1948.
O massacre-surpresa em solo israelense desencadeou uma campanha de bombardeios contra a Faixa de Gaza , sob controle do Hamas desde 2007. Mais de 10.300 pessoas foram mortas, em sua maioria civis, segundo o Ministério da Saúde, administrado pelo Hamas.
O conflito aumentou os atos de ódio contra os judeus em 1.180% em nível global, indicou um relatório do Estado de Israel, da Organização Sionista Mundial e da Agência Judaica.
O tema é foco dos debates desta semana no III Fórum América Latina e Israel, organizado pelo CAM, que acontece no Uruguai, com representantes de 17 países.
“Na América Latina não há números concretos, mas a retórica em geral, o que vemos dos líderes e dos decisores governamentais, e o que penetra na sociedade civil, é uma escalada nas manifestações antissemitas”, diz Salomon.
Nascido há 47 anos, em Israel, filho de pais uruguaios, Salomon considera os grafites que apareceram no “pacífico” Uruguai um sinal de “intolerância”; no país, segundo ele, sempre houve uma “coexistência muito natural” com a comunidade judaica.
Ele também menciona marchas pró-Palestina no Brasil e em outros países latino-americanos “com apelos para eliminar o Estado de Israel e matar os judeus”.
E destaca a sua “preocupação” com as mensagens nas redes sociais do presidente colombiano, Gustavo Petro, que comparou a ofensiva de Israel contra Gaza em retaliação ao ataque do Hamas com a perseguição nazista aos judeus.
“As declarações do presidente Petro foram claramente antissemitas”, diz ele.
‘Criticar Israel é legítimo’
Salomon, radicado no Uruguai, depois de viver em Israel, Argentina, México e Guatemala, reconhece o direito de qualquer pessoa de dar a sua opinião sobre o conflito no Oriente Médio, mas não de promover o ódio contra os judeus.
“Criticar o Estado de Israel é legítimo. E está tudo bem. O que não podemos aceitar são declarações e retóricas antissemitas”, afirma.
“Acusar os judeus pelas decisões do Estado de Israel é antissemitismo”, sublinha, ao citar uma das definições da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA).
Segundo Salomon, a situação atual faz recordar “os momentos sombrios da Segunda Guerra Mundial” (1939-1945), quando cerca de 6 milhões de judeus foram exterminados pelos nazistas.
“É a mesma narrativa, de que o povo judeu deve ser liquidado e morto, onde quer que seja, e transcende o conflito que existe hoje no sul de Israel”, diz ele. “Parece-me que não aprendemos depois do Holocausto.”
Hoje, existem 13 milhões de judeus no mundo, 7 milhões dos quais vivem em Israel.
“Vemos três tendências importantes de antissemitismo: na esquerda radical, na direita radical e no Islã radical, ou Jihad”, diz Salomon.
Por trás disso estão interesses geopolíticos, explica, mas também desinformação e medo do diferente, inveja de um certo sucesso ou prosperidade associados a judeus e fatores históricos e culturais.
“Há muitos paradigmas que temos que quebrar, e não é fácil. E é isso que tentamos fazer no CAM todos os dias”, afirma Salomon.
“O diálogo é fundamental”, resume.