Por: Edel Holz – Ela tem seus setenta anos. Talvez seja viúva, mal-amada, frustrada, amarga por ser só, sei lá… talvez tenha tido uma desavença, uma discussão no trânsito no caminho pro teatro… talvez tenha uma penca de filhos e um marido ausente… e netos que dão muito trabalho… talvez seja mau humorada simplesmente e não acha graça em nada!
Uma senhora de 1,70 m de altura, muito bem-vestida. Alinhada, ouso adivinhar seu nome: Célia? Claudia, Dinorah? Amélia? Simplesmente senta-se na “fila do gargarejo “, na primeira fileira de um espetáculo de comédia. Piada atrás de piada, a atriz sozinha no palco, segurando o rojão de um monólogo onde o riso prima e a dita cuja não ri de absolutamente nada.
A atriz tem vontade de parar o show e dizer:– Por favor retire- se da sala de espetáculos porque a senhora está me constrangendo.
Mas ela nada diz. Prossegue com o show e não olha mais pra aquela cara emburrada de perereca mal trepada, de cu mesmo. Ela fixa seu olhar nos outros pontos da plateia que gargalham com ela. Seu ego não desmorona, sua atenção não é desfocada e ela continua a peça não esquecendo sua maior missão: a diversão.
O espetáculo é um sucesso de público e muito bem criticado em vários aspectos.
A atriz lê a crítica da peça no jornal, vê a foto da mulher que se sentou na primeira fila e que não ria de nada.
Que bom que ela não parou o show e pediu que se retirasse, pois a Dona Barbara (este era o nome dela) teceu elogios à interpretação da atriz, trilha musical, iluminação e principalmente à despretensiosidade do espetáculo.
A atriz se encheu de si mesma e toda vez que encontra uma cara fechada na plateia, muda o foco.
Afinal, pode ser uma crítica teatral da maior importância que como a outra faz com que a peça em cartaz estoure. Não tem um dia que ela não se lembra daquela mulher sentada na primeira que simplesmente não ria de nada.
Agora ela sabe seu nome: Dona Bárbara!
SOBRE A COLUNISTA: Edel Holz é a mais premiada e consagrada atriz, roteirista, diretora e produtora teatral brasileira nos Estados Unidos. Inquieta e de mente profícua, Edel tem sempre um projeto cultural engatilhado para oferecer para a comunidade brasileira. Depois de anos de ausência, Edel volta a abrilhantar as páginas de um jornal. Damos boas vinda à poderosa e efervescente Edel.